Guilherme Gomes, semi-finalista do Portugal Tem Talento, revela-nos um pequeno segredo sobre a sua actuação na gala de amanhã, as mudanças na sua vida e as expectativas em relação à sua prestação no programa e ao seu futuro.
Depois de ter conquistado o júri e surpeendido o país com a sua declamação de Álvaro de Campos, o Guilherme prepara-se para tentar conquistar o voto dos telespectadores da SIC. Fica a conhecer um pouco melhor este talento, de 17 anos:
Espalha-Factos: O que esperas da tua participação na semi-final do programa? E quanto à votação do público, quais são as tuas previsões?
Guilherme Gomes: Não sei bem o que esperar para a semi-final. A aceitação do público na minha primeira actuação foi muito boa, e isso deixa-me relativamente confiante, mas o poema que levo desta vez é bem diferente, muito mais pacífico. Quanto à votação do público, são muitos votos que estão em causa, e isso deixa-me receoso, pois posso não ter votos suficientes. De qualquer maneira, não vou a pensar nisso. Levo um poema diferente, é certo, mas prometo dizê-lo com a mesma paixão e sentimento que na primeira vez.
EF: O balanço da tua participação no Portugal Tem Talento só pode ser positivo. Para além das inúmeras mensagens de apoio dos cada vez mais fãs, tens recebido críticas de pessoas que consideras referências nas áreas do teatro e poesia?
GG: Sim, tenho recebido críticas bastante positivas de pessoas que sinto que são superiores a mim no Teatro (também não é preciso muito, não é?). Acima de tudo, tenho sido visto, penso que isso é o mais importante. O facto de levar o que levei, e ter sido o único a fazê-lo fez com que não passasse despercebido aos olhos em geral, e aos mais atentos.
EF: Sentes-te uma “bandeira” da poesia para o público mais jovem?
GG: De todo! Imagino uma bandeira da poesia feita com excertos de poemas, isto é, a bandeira da poesia, são os próprios poemas, quanto mais os poetas. Eu apenas interpreto o que os outros sentem e escrevem. De qualquer maneira, sinto que há muito jovem por este Portugal que se identifica comigo, e me procura. Fiquei espantado com a quantidade de pessoas da minha idade, e por vezes mais novos, que escrevem poesia, e se interessam por literatura.
EF: Muitos te apelidaram de poeta, e tu fizeste questão de distinguir poeta de declamador de poesia. A tua paixão passa apenas pela declamação ou também crias os teus próprios poemas?
GG: Na verdade, não gosto de ser conhecido como poeta, porque, no fundo, a poesia surge na minha vida como um exercício de interpretação. Agora, se criar um poema é criar algo com sentimento, então eu sou poeta, pois crio, a partir de outros textos, vídeos sentidos. Já tive as minhas experiências com poemas, mas nada de especial. A escrever, prefiro escrever peças de teatro, ou narrativas.
EF: A tua grande admiração por Fernando Pessoa já foi várias vezes destacada e está comprovada nos teus canais do Youtube. Tens algum heterónimo preferido? Ou a faceta que preferes é a do próprio ortónimo?
GG: Tenho um heterónimo preferido: Álvaro de Campos. Penso que poderá ser aquele com que o actor mais se identifica, pelo exagero, pela procura de sensações. É muito rico! Comparo-o muito a Almada Negreiros, de quem também gosto muito.
httpv://www.youtube.com/watch?v=3uxyGxs0r6E
EF: O que mudou no teu dia-a-dia depois do sucesso da tua primeira participação no programa?
GG: Primeiro, passei a ser reconhecido na rua, depois, comecei a ficar com a agenda preenchida! Fiquei impressionado com a “fama” que uma pessoa alcança por aparecer cinco minutos na televisão. Por um lado entristece-me, pois existe muita gente, com muito valor, que batalha por uma carreira durante a vida toda e não consegue tanto reconhecimento público como um miúdo de 17 anos que até nem se safou mal num programa de televisão, mas que ainda tem muito que aprender. Apesar de achar que a visibilidade pública não é o mais desejável, é agradável e serve para elevar o ego!
EF: O que é que podes adiantar aos leitores do Espalha-Factos sobre a tua declamação na gala da semi-final?
GG: Não posso adiantar muito por um simples motivo, e quem o disse foi Houdini: “O segredo da magia protege o público, não o mágico”. Quero dar-vos o direito da surpresa. Adianto só que se trata de um poema de Alexandre O’Neill!
EF: A poesia é rara na televisão portuguesa e a participação de um declamador num programa deste género foi mesmo inédita. Qual a tua opinião sobre o espaço da cultura na televisão portuguesa? E quanto à poesia em particular, pensas que tem sido subvalorizada?
GG: Como disse anteriormente, ou dei a entender, há muitos jovens interessados por poesia em Portugal. Já houve, outrora, programas inteiramente dedicados à declamação de poesia na televisão, apresentados por Mário Viegas e João Villaret (programas diferentes, em tempos diferentes). O meu “sonho” até seria ter um espaço assim, que é o que tento criar com o Odeapessoa e o Dizedor [canais do Youtube]. Mas, tendo em conta que as letras das músicas são poemas, acho que ainda se ouve muita poesia na televisão. Acho, no entanto, que é tratada com muita banalidade. Por isso é que eu surjo como algo inédito. No fundo, dei o valor devido à poesia, às suas palavras.
EF: Sentes que o Portugal Tem Talento é apenas uma boa experiência ou consideras que, no teu futuro profissional, poderá trazer-te algumas boas surpresas?
GG: Sinto que o Portugal Tem Talento me pode abrir algumas portas para o futuro, mas por agora está a ser uma boa experiência.
EF: Um apelo ao voto em ti.
Caros leitores do Espalha-Factos, apelo ao vosso voto por vários motivos, tantos quanto a profundidade de um poema de Ricardo Reis, mas acima de tudo para apostarem em Portugal, e na língua portuguesa, sendo que não vou declamar noutra língua qualquer senão o português. Votem, acima de tudo, se acham que tenho valor e mereço o vosso voto (de confiança)!