António Zambujo abre o Festival Músicas do Mundo de Sines, dia 22 de Julho, no Castelo de Sines. O festival abre assim com World Music bem portuguesa: o internacionalmente aclamado fado de António Zambujo.
Internacionalmente aclamado e também ocupado. O concerto será um regresso a Portugal depois de uma série de concertos, de Abril ao início de Julho, pelos mais diversos países do mundo: de Espanha ao Azerbaijão, passando pela Suécia, Brasil, Israel e Bulgária. Apenas a 4 de Junho se lê timidamente Beja na agenda oficial do fadista.
O sucesso internacional começou bem antes do nacional que, de resto, nunca se fez notar como em França, por exemplo, onde, em 2008, o seu álbum Outro Sentido (2007) chega ao terceiro lugar do Top Fnac. O lançamento nos Estados Unidos e na Europa deste álbum, pela editora Harmonia Mundi, foi a pedra de toque para o reconhecimento do público internacional. Por esta altura, já tinha actuado em palcos franceses, croatas, canadianos ou espanhóis com alguma regularidade; também já tinha sido convidado para o Festival Atlantic Waves, em Londres, e reconhecido com o Prémio Amália Rodrigues para melhor intérprete masculino de fado. Até aqui o tinham trazido os trabalhos O Mesmo fado (2002) e Por Meu Cante (2004).
Em todos eles, António Zambujo assume-se como filho de Alentejo, nascido em Beja, criado ouvindo os cantares alentejanos, entoados da forma mais genuína possível: pelas gentes do Alentejo, em tascas e tabernas, ou a entreter a alma enquanto o corpo se vê no esforço do trabalho. Para além disso, havia os discos de música francesa e ligeira da mãe e, sobretudo, os discos de fado do pai, que apesar de ser “o pior cantor do mundo”, segundo as palavras do próprio António Zambujo, teve o mérito de o juntar desde cedo ao fado.
httpv://www.youtube.com/watch?v=Q6FnndViPmA
A sua educação juntou-o realmente à música aos oito anos, quando começou a estudar clarinete no Conservatório Regional do Baixo Alentejo, mas o que ficou para o seu fado foi antes a educação informal da família e da sua terra. A cadência, o balanço, a voz simples, a harmonia e a frase do Cante Alentejano é inegável no seu fado. Outras influências surgiram, em especial em Outro Sentido.
Ia ouvindo compulsivamente João Gilberto, Chico Buarque, Tom Waits e ansiava que lhe dissessem que parecia Chet Baker. Nas casas de fado onde foi começando a actuar, primeiro para fazer as vezes de quem faltava, depois como cantor residente, amigos fadistas mais experientes adoravam-no no seu registo mais tradicional, mas eram reticentes em relação às suas viagens por aquilo a que já não chamavam fado, mas sim música brasileira.
Depois de António Zambujo descobrir o Brasil na sua música, o Brasil descobriu António Zambujo. Entre 2008 e 2009, actua várias vezes no Brasil, contando com participações de figuras da música brasileira nos seus espetáculos, como Roberta Sá ou Marcelo Gonçalves. Na plateia estão mitos como Ney Matogrosso e Caetano Veloso, que não hesitou em escrever no seu blog sobre o músico português. Disse sobre ele que não é como aqueles músicos e bandas que se ouvem e se gosta simplesmente. É daqueles que se quer ouvir mais e permanentemente. É a primeira voz masculina do fado de que realmente gostou e que, com ele, se vai “ao fundo do fado”. “É de arrepiar e fazer chorar.”
Outro Sentido trouxe ainda outras alegrias ao fadista: o espectáculo deste álbum é considerado um dos 10 Melhores Concertos Internacionais do Ano, pelo jornal O Globo (Brasil), ao lado de nomes como Elton John ou Kiss; e ganha o título de Top of the World Album pela revista Songlines.
httpv://www.youtube.com/watch?v=K1P1Y_z8EVw
Em 2010, com Guia, o sucesso continuou e expandiu-se. Continuaram as digressões internacionais e nacionais, a crítica positiva, publicações nacionais e internacionais a considerarem-no um dos melhores do ano e o prestígio de acutar no palco do Copenhagen Concert Center na Womex 2010, o mais importante festival e mostra de world music do mundo.
Durante todo este tempo, continuou a cantar em Portugal, no início da carreira em diversas casas de fado (como o mítico Senhor Vinho, de Maria da Fé), em digressões nacionais, cantou Anda Comigo Ver os Aviões com Os Azeitonas e chegou mesmo, antes de todo o sucesso, a ser o marido de Amália Rodrigues, no musical de Filipe La Féria, Amália.
O Portugal onde, como ele próprio afirmou, “não se passava nada”, parece estar agora a acordar para António Zambujo.