Dia 25 de Fevereiro, o aguardado regresso de Nicolau Breyner à televisão pública confirmou-se.
Por volta das 23 horas sentei-me expectante em frente ao televisor, esperando ir assistir a um talk-show não de grande qualidade, mas que iria primar pela densidade cultural e experiência de vida do apresentador.
Começou, e logo o genérico não augurou nada de bom. Senti-me de regresso aos anos 90. O grafismo do logótipo ao melhor estilo Ideia Casa, nada atractivo. Porém, nestas análises, nem sempre a primeira impressão é a mais correcta. Esperei então o início da emissão, pensando ir ser compensado pelo cenário e pelo conteúdo.
Errado. A década de 90 continuava a invadir o meu lar.
O set apresentou-se como cúmulo do anacronismo. Notamos as tubagens de ferro iguais às do cenário do HermanSIC, emitido em 2000 e tiras de néon colocadas ao alto no local de entrada dos convidados, que nos reportam ao tão antigo Chuva de Estrelas. Uma iluminação de péssima qualidade, dominada pelo azul (muito) escuro, que num programa a este horário só estimula o sono normal de uma sexta-feira à noite.
A imagem citadina que nos é apresentada (estética seguida por todo o mundo em programas do género), mantém o duvidoso gosto. Tirada num mau ponto da cidade, ausente de qualquer tratamento fotográfico, permite que tenhamos como fundo dos grandes planos dos convidados, enormes antenas parabólicas aplicadas no topo de edifícios que têm o dom de estragar qualquer paisagem arquitectónica.
Não podemos ainda ficar indiferentes à tira de leds azuis que contorna em meio círculo a imagem da cidade – pisca quando entram convidados reflectindo no chão a sua luz e contribuindo ainda mais para a confusa alumiação que rege o cenário.
Quanto ao conteúdo, o tradicional editorial conseguiu ser mais uma desilusão, Nicolau não é especialista em stand up, lê o teleponto sempre com as mesmas inflexões vocais, sempre com as paragens mais previsíveis de quem se encontra a ler um texto do género.
Apresentou os músicos – três, que numa já cansativa maneira de tentar puxar a gargalhada, fingiu tratar mal, obtendo deles uma expressão facial que indiciava uma indiferença relativamente a tudo o que acontecia – o que tem piada feito num programa como (o defunto) Lado B, devido à idade do apresentador, não se verifica aqui.
Começaram então as entrevistas, numa sequência desajustada, com tempos desajustados entre convidados. Luís Filipe Menezes foi o primeiro a entrar e as conversas não passaram do banal – nenhum conteúdo político especial, nenhuma informação digna de enaltecimento. A razão? Definitivamente as perguntas. Fracas e sem qualquer profundidade.
“Terminado o tempo” do político, seguiu-se um convidado sui generis, Eurico Cebolo, daqueles que provocaram a imensa condenação ao HermanSIC. Falou-se de livros com títulos como O Violador de Mortas, e o tempo dispensado com esta conversa foi o mesmo que com a do Presidente da Câmara Municipal de Gaia. A última “convocada” foi Fátima Felgueiras, mantendo-se a (falta de) qualidade das perguntas, pouco passando das referências familiares que nada interessam ao espectador deste horário.
Intercalando os momentos de conversa enfadonha, alguns apontamentos de humor – um deles com participação de Nicolau e de José Raposo que, em qualidade, estava igual a Nico d’Obra de 1993, mas agora com um cenário de apenas dois metros quadrados.
Nuno Eiró é a presença inesperada neste programa, pouco ligado à imagem RTP, não deixou de passar pelo mercado do Bulhão com o intuito de fazer algumas perguntas inconsequentes, tendo por base os títulos pouco ortodoxos dos livros de Eurico Cebolo.
A sua segunda intervenção provou a ausência de qualquer critério de qualidade nos sketches – o chroma que atrás dele surgia era suposto conseguir criar a ilusão que Eiró estaria em frente ao Palácio de Buckingham, mas a ausência de cuidado em reproduzir uma imagem em movimento, em vez de uma fotografia, não lembrou a ninguém da produção. Sendo o programa gravado, não entendo como este e outros dois erros de Nicolau foram para o ar, não tendo sido regravados.
A qualidade musical é nula, os separadores são adaptações simples demais para o programa em questão.
Não sei se é do nome, mas a verdade é que esta emissão esteve muito perto, se não mesmo taco-a-taco, com a qualidade do malogrado Sexta à Noite de José Carlos Malato, ou até, tendo em conta o referido layout anacrónico, com o Carlos Cruz Quarta-Feira, emitido entre 1991 e 1993 também na RTP.
O serviço público esteve ausente, em 60 minutos desfilaram más entrevistas, maus cenários, mau humor, e um apresentador que na realidade é apenas um óptimo actor de novelas e cinema.
Deixemos esta complicada tarefa de fazer talk-shows a quem já deu mais que provas de saber fazê-lo – Herman José – que semanalmente nos tem brindado com 50 minutos de muito correcta televisão no seu Herman2011.