O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
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Reportagem Optimus Alive’13: dia 13

Depois de um primeiro dia repleto de altos e baixos, dignos de uma montanha russa, foi já com algum cansaço nas pernas e muita ânsia de boa música que a equipa do Espalha Factos voltou ontem ao Passeio Marítimo de Algés, a fim de fazer a cobertura do segundo dia do Optimus Alive’13. Fica aqui a reportagem possível.

Num dia em que o cartaz se adivinhava, em termos de expectativas, consideravelmente mais equilibrado que o do dia anterior (e nós, cansados de saltar de palco em palco, agradecemos a gentileza), as condições climatéricas continuaram a não ser as mais convidativas à prática das “festivalices”. Contudo, isso não foi entrave para as dezenas de milhares de pessoas (grande parte das quais já em idade avançada, para ver Depeche Mode) que se deslocaram ontem a Oeiras.

O ponto de partida foi, mais uma vez, o Palco Heineken, onde chegámos já atrasados para a actuação dos portugueses Boca Doce (diz quem viu que não perdemos nada). Conseguimos, ainda assim, apanhar os DIIV a destilar de forma exímia a sua indie pop encorpada e deliciosa, recheada de inspirações post-punk (céus, aquele baixo) e de um reverb criminosamente fervilhante. Num show destinado a apresentar Oshin (2012), disco de estreia dos nova-iorquinos, temas como Past Lives, How Long Have You Known? e Sometime encontraram eco numa plateia surpreendentemente bem recheada para um concerto de tarde no palco secundário.

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Depois de apanharmos cinco minutinhos da actuação dos Wild Belle (típica banda que só vale pela loirinha bonita atrás do microfone), rumámos em direcção ao Palco Optimus, onde os norte-americanos Jurassic 5 davam já o seu espectáculo. Aposta ousada por parte da organização (concertos de hip-hop em festival nunca foram muito populares por estas bandas, excepto no Sudoeste), a confirmação dos veteranos Jurassic 5, actualmente reunidos para shows ao vivo após um hiato de 6 anos, tinha tudo para falhar: aterraram de pára-quedas num palco onde o restante cartaz nada tem a ver com a sua sonoridade, nunca foram muito populares em Portugal (esta foi a sua estreia em solo nacional) e a altura da actuação, ao final de uma tarde onde o sol se recusava a dar a cara, não era a mais convidativa à festa.

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Felizmente, o colectivo californiano teve argumentos mais que suficientes para fazer deste um dos melhores concertos do dia. Com um hip-hop alternativo cheio de soul, groove e funk, num estilo bem solarengo à moda da velha guarda, os quatro MC’s e os dois DJ’s apresentaram temas festivos e animados que, em combinação com a óptima interacção com o público, espalhou um ambiente muito positivo e boa onda pelo recinto. E entre os eternos clássicos do grupo (Concrete Schoolyard, Quality Control e Freedom soam tão frescas hoje como há dez anos atrás), houve ainda espaço para um show-off dos DJ’s Cut Chemist e Nu-Mark que incluiu MPC’s e turntables portáteis, riffs clássicos do rock e até o Harlem Shake. Um espectáculo de luxo.

De seguida, retornámos ao palco secundário a tempo de ver ainda os Rhye, por essa altura a prepararem-se para tocar Last Dance, um dos temas de Woman, disco de estreia lançado este ano. O projecto de Mike Milosh e Robin Hannibal, que se apresentou no Passeio Marítimo de Algés em formato de quinteto, trouxe ao Optimus Alive’13 os arranjos lânguidos e aveludados da sua soul e r&b e o sensualismo andrógino dos vocais de Milosh, num espectáculo contagiante que, apesar dos esforços do grupo, não encontrou grande repto no parco e morno público que se encontrava na plateia do Palco Heineken. Foi pena, pois este poderia ter sido um dos melhores concertos do festival, e canções como Open e The Fall, portentos repletos de fisicalidade, pediam uma recepção mais condigna.

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De regresso ao palco principal, por volta das 20h30, eis que chega o momento de mais uns cabeças de cartaz ocuparem o Palco Optimus e nos apresentam um concerto que, apesar de intimista, foi um espectáculo competente e agradável. Os fãs pareciam mais animados quando ouviam canções mais antigas – Munich – do álbum The Back Room (2005). Mas antes tinham tocado The Racing Rats e a canção homónima do álbum  An End Has a Start (2007). Neste concerto sentiram-se algumas quebras de entusiasmo, não só devido à menor familiaridade das pessoas com o novo disco, The Weight of Your Love (com canções como Ton Of Love), mas também pelo encadeamento do próprio concerto em que foi morno, tirando excepções à regra como a canção Papillon, já perto do fim, que reanima os ânimos, passo o pleonasmo, até à despedida do palco.

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O concerto de Capitão Fausto foi o que se pode chamar um “concerto flash”, isto porque estiveram pouco tempo em palco, apesar da animação toda que trouxeram com eles. Agradeceram por estar ali, neste caso no palco Heineken, e começaram por tocar a Célebre Batalha de Formariz, o tema que é single do novo álbum, que ainda não é conhecido. Do álbum anterior, apresentaram o momento por que todos esperavam – com Teresa – acompanhada por coros do público que sabia a letra de cor e salteado. Santa Ana e Zé Cid fizeram ainda parte da setlist. O concerto começou às 21h25 e, quando chegámos ao palco Optimus outra vez (22h00, mais coisa menos coisa) ainda não tinha começado Depeche Mode, para uma maioria, o momento mais aguardado da noite.

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Com alguns minutinhos de atraso começam a ouvir-se os primeiros momentos de Welcome to My World, a primeira do alinhamento. É com Walking on My Shoes, que o público (muito dele pessoas de 40/50 anos) começa a entrar no espírito da banda inglesa, cantando o refrão com o vocalista Dave Gahan. Uma nota para o estilo que Gahan demonstrou em cima do palco – muitos brilhantes, muitas piruetas (à bailarina) e muita teatralidade. Demasiada até. Passam temas como Precious, esta muito apreciada dos fãs e dos menos fãs e Black Celebration. A atenção parecia estar a decair, até ao momento a solo do guitarrista Martin Gore, de aparência serena, e que nos traz por duas vezes (outra mais no fim do concerto) momentos de emotividade. Desta vez com a canção Shake The Disease. Depois de Heaven, a Question of Time e, já perto do fim, tocam Enjoy The Silence, provavelmente o single mais conhecido.

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Ouve-se na audiência gente impaciente, incluindo um fã (não muito educado) que pede a Personal Jesus com umas asneiras à mistura. E não é que isso acontece de imediato? Sim, agora todos estavam mais satisfeitos e, após essa canção, a banda abandona o palco. Mas a despedida foi tão inexistente que só poderiam voltar. O encore acontece com outro momento acústico interpretado por Martin Gore, com a canção Home, os seus bonitos versos fazem-nos sentir agradecidos por momentos como aquele, num concerto em que não excedeu as expectativas. Segue-se uma versão de I Just Can’t Get Enough em que o vocalista Dave Gahan volta a cambalear de um lado para o outro do palco e tenta apelar a participação do público. O concerto termina com alguns “thank yous”, I Feel You e remata com Never Let Me Down Again.

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Já passava da meia noite e o artista português The Legendary Tiger Man estava no palco Heineken. O palco estava bem composto e pronto para receber o seu rock n’ roll. Paulo Furtado estava animado, mas nada por aí além, foi tocando os seus temas e agradecendo a presença de todos com um sorriso nos lábios. Destaque para os temas Radio & Tv Blues, ilustrada com imagens sexy de um vídeo dos Cais do Sodré Cabaret, e The Saddest Thing To Say, do álbum Femina (2009), que fizeram as delícias dos presentes. Nesta canção o público cantou o refrão com Lisa Kekaula (presente no ecrã virtual). Big Black Boat é a última deste concerto onde os riffs da guitarra falaram mais alto.

A noite seria ainda longa com os Crystal Castles a actuar no palco Heineken perto das 03h00, sempre profissionais, o duo dos canadianos Alice Glass Ethan Kath devem ter estado à altura do desafio. Dizemos “devem” porque não conseguimos ver o fim deste concerto, mas adivinhamos bons momentos para os resistentes que se deixaram ficar. Hoje espera-se um dia em cheio com  Kings Of LeonPhoenix, Alt-J Django Django.

*Este artigo foi escrito, por opção dos autores, segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1945

Texto: João Morais e Susana Pacheco

Fotos: Catarina Abrantes Alves