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japandroids

Celebration Rock

Vindos de Vancouver, Canadá, Brian King (guitarra/voz) e David Prowse (bateria/voz) formam, desde 2006, os Japandroids, uma dupla de Indie Rock que mistura influências vindas do Garage, Punk, Noise e até Shoegaze. Depois de um período conturbado na vida da banda, que colocou em risco a própria continuidade do projecto, o grupo estreou-se em 2009 nos LP’s, com o aclamado Post-Nothing. O segundo disco, Celebration Rock, teve o seu lançamento mundial a 5 de Junho, pela Polyvinyl Record Co., e é dele que vamos falar hoje. 

Quando tomei conhecimento da existência dos Japandroids, ainda em 2011 (por via de alguns fóruns da internet que eu frequento e que são dedicados à música de cariz mais independente), fiquei totalmente agarrado pela energia, crueza e juventude impressas na música presente em Post-Nothing, disco que ainda hoje acarinho bastante. Por isso mesmo, quando soube que o grupo iria lançar este ano um sucessor ao seu álbum de estreia, fiquei totalmente eléctrico e cheio de expectativas, mas também com algum receio de que os anos passados desde a estreia pudessem, de alguma forma, ter dado à banda uma maturidade que “borrasse a pintura” e desvirtuasse a sonoridade e o espírito da música dos Japandroids.

Porém, depois de ouvir este Celebration Rock, confesso que todos os meus medos foram totalmente injustificados. É certo que este disco apresenta um grupo mais maduro e vivido; no entanto, a verdade é que essa maior maturidade e experiência, ao invés de “desviarem” os Japandroids para maus caminhos, aparecem como uma “bênção” que lhes traz uma maior consistência, uma visão mais focada e uma atitude mais certeira na sua música. Devido a esse crescimento e a essa evolução, devo dizer que este Celebration Rock é, para mim, um dos grandes álbuns de 2012.

Comecemos pela sonoridade. Na verdade, neste departamento muito pouco mudou em relação a Post-Nothing. Mantém-se o Indie Rock com o espírito jovem do Garage Rock, a rebeldia do Punk, a distorção acutilante do Noise e as camadas de efeitos “densos” do Shoegaze, algo que muito me agradou. Na produção, levada a cabo pelos próprios Japandroids, também se mantem a estética crua, minimalista e “imediatista” que tantas delícias me fez no primeiro álbum. Em equipa vencedora não se mexe.

É nas letras, porém, que se nota uma alteração mais radical. Apesar de se manter um espírito de “zeitgeist juvenil” presente no primeiro disco, a verdade é que neste Celebration Rock os sujeitos líricos tomam uma posição mais afastada, observadora e nostálgica da adolescência, por oposição às descrições “in the moment” das ambições e rotinas quotidianas de dois jovens sonhadores de Vancouver presente em Post-Nothing. Além disso, é também notória uma grande influência de nomes do Classic Rock (como Led Zeppelin ou The Who) na forma como são referidas oposições entre “bem” e “mal” ou “céu” e “inferno”, o que dá ao disco uma grande dinâmica pelo facto de estar estruturado por camadas e poder ser alvo de várias interpretações.

No entanto, apesar de este ser um álbum incrível e que demonstra grandes melhorias em relação ao seu antecessor, a verdade é que este Celebration Rock não é totalmente perfeito e não consegue escapar incólume a algumas críticas menos positivas. A mais premente é, na minha opinião, a questão da homogeneidade; se é certo que uma maior coesão só beneficia a qualidade geral do álbum, também o é que aliado a ela vem, quando usada em demasia, um esbatimento da diferenciação entre as canções. Apesar de este não ser um problema muito grave no disco, confesso que senti uma menor “variedade” de sons e estruturas neste LP quando comparado com Post-Nothing, o que acaba por não trabalhar totalmente a favor do grupo.

Quanto às minhas canções favoritas deste Celebration Rock, a apaixonante Fire’s Highway, a catártica Evil’s Sway, a electrizante Adrenaline Nightshift, a fervilhante Younger Us ou a tocante Continuous Thunder são, sem dúvida, as peças que destaco. Quanto às de que menos gostei, só mesmo a For the Love of Ivy consegue, a meu ver, estar uns (pouquíssimos) furos abaixo das restantes faixas, o que só atesta o elevado nível de consistência deste LP.

Concluindo, com este Celebration Rock os canadianos King e Prowse revelam um crescimento notável enquanto dupla, o que lhes permitiu trazer uma maior solidez ao seu trabalho sem comprometer o espírito juvenil e cheio de adrenalina que fez de Post-Nothing um grande álbum. Apesar de ter as suas falhas, este Celebration Rock consegue até, no meu ponto de vista, suplantar a qualidade do seu antecessor, o que é um feito notável. Um dos meus discos favoritos do ano, Celebration Rock é, sem dúvida, a obra de celebração dos Japandroids; um título adequado para um álbum estrondoso.

Nota Final: 9.3/10 

*Este artigo foi escrito, por opção do autor, segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945